03 dezembro 2006

Viagem


Um final de tarde alaranjado e frio. Era este o cenário que me acompanhava durante este regresso a casa. Olho através da janela embaciada pela minha respiração quente e fixo o meu olhar no infinito. Voo até ao mundo dos meus pensamentos a ouvir “All good things come to na end” e revivo cada instante desse dia mágico.
Hoje o dia amanheceu mais cedo. Só para mim, é uma verdade, mas amanheceu bem cedo. Tinha chegado a hora de partir. Um coração que pinchava como uma bola-saltinona e uma respiração ofegante. Foi assim que estive até ver o cais de chegada.
Uma aventura. Um momento decisivo na minha vida. Era o que significava para mim esta viagem. Em que o bilhete era só de ida e o local já estava marcado. O regresso, esse, ainda era um enigma.
O momento tinha chegado. Parei em frente daquele que seria o me lar naquele dia. Respirei fundo. ‘É agora!’, pensei.
Dentro do elevador imaginava o que ia dizer, o que iria fazer. O elevador parou. Esqueci todos os planos que tinha idealizado. Uma sensação de liberdade apoderou-se de mim. Um sorriso madrugar e um café fizeram-me sentir em casa. Receberam-me como se já fizesse parte daquela família tão numerosa. Agora eu fazia parte daquela família talentosa e profissional.
Depois de andar a conhecer os cantos à casa, sentei-me numa mesa coberta de jornais do dia. Observei tudo até ao mais ínfimo pormenor. Assisti. Conheci. Aprendi. Vivi o dia-a-dia que quero para o meu futuro.
Hoje o “bichinho” acordou. O entusiasmo de ser jornalista voltou a apoderar-se de mim. Agora tenho a certeza que é isso que desejo, que anseio…É isto que quero ser!
A música continuava a repetir vezes sem conta. Será verdade que tudo o que é bom acaba? Pelo menos tenho a certeza que este dia não será esquecido. Guardei todas as aventuras e sensações numa folha de papel para recordar sempre que desejar. Esta viagem será eterna. Será ela o impulso para todas as aventuras e viagens que ainda me esperam.
Obrigado a todos que hoje, mesmo não sabendo, me ajudaram a sorrir.

28 novembro 2006

Descobrir

Na cidade gélida e sombria encontro o meu porto de abrigo. Sozinha deambulava quando entoaram aqueles ruídos vindos daquela ruela. Estreita e secreta. O perigo abundava, e com ele crescia o desejo de encontrar algo. Segui. Desejei. Contrariei. Descobri. Caí…
As minhas mãos tremiam e sem força tentei erguer-me. Não consegui. Chorei, gritei, sufoquei de pavor. Senti-me sozinha e impotente. Mas não é assim que nos sentidos quando sabemos que erramos?
Seguimos caminhos movediços, guiados pela emoção, pelo momento, para sentirmos o dito Carpe diem. Mas magoa e faz crescer.
Errar. Cair. Esmurrar as mãos que amparam a queda e estremecem ao descolar do chão. Quebrar regras, saltar muros e barreiras para atingir o nosso objectivo. Caí. Caí muitas vezes. Mas quando o medo desaparece ficamos mais fortes.
Sentimos uma força divina que nos ilumina. É ela que nos faz sentir que já não estamos sozinhos. Sabermos que temos alguém que nos ajuda a sacudir as mãos fartas de pedrinhas.
Agora já não tenho medo de cair.
"Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada."
(José Régio, Cântico Negro)

27 novembro 2006

Um livro chamado Destino!


Abrir um livro. Ler e reler. Devorar cada linha como se fosse a última, sem recear o que o futuro nos espera. Passamos a ser confidentes e autores de cada linha, de cada pensamento, de cada história. Podemos desfrutar de tudo sem que ninguém nos diga o que está certo ou errado. Partilhar e construir uma história. Parar ou recomeçá-la. Basta abrir ou fechar o livro.
Se a nossa vida fosse um livro tudo seria mais fácil. Poderiamos ser autores da nossa própria história. Autores das alegrias e leitores das mágoas. Tudo seria mais fácil se o que está mal escrito pudesse ser apagado e reescrito. Sonho ser autor, sonho ser escritor, sonho ser a personagem principal de uma história com final feliz. Sonho ser eu a escrever a minha vida...

"Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
(...)
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."

(Pedra Filosofal, António Gedeão)